A geração de energia solar no Rio Grande do Sul mantém ritmo acelerado em 2020. Na esteira desse crescimento, registrado tanto em conexões quanto em potência instalada, a criação de empregos na área também está aquecida, segundo a Associação Brasileira de Energia Solar (Absolar). De acordo com integrantes do setor, o aumento na demanda por profissionais qualificados também impulsiona a procura por cursos na área.
Levantamento da Absolar aponta que o setor gerou mais de 190 mil novos empregos no país desde 2012. No primeiro semestre deste ano, foram 40 mil postos. No Rio Grande do Sul, foram cerca de 12 mil empregos criados nesses oito anos. Desse total, cerca de 5.400 vagas foram abertas apenas em 2020, segundo a associação. Coordenadora estadual da Absolar no RS e sócia da Solled Energia, Mara Schwengber afirma que esse aquecimento na área do emprego é normal, pois a geração de energia solar apresenta crescimento exponencial nos últimos anos, o que deve se repetir em 2020.
— Cerca de 40% dos empregos que a gente tem no setor aqui no Rio Grande do Sul foram gerados neste ano. O crescimento da energia solar aqui no Estado foi muito grande — destacou Mara.
A coordenadora ressalta que a guinada do setor no Estado começou em 2017, teve salto expressivo em 2019 e deve se intensificar no fim de 2020, com forte tendência de fechar o ano com valores ainda maiores em razão da sazonalidade observada no período:
— No último trimestre do ano, o crescimento costuma ser bem maior. (..) Provavelmente até o final do ano a gente vai ter o dobro de conexões que a gente teve em 2019.
Estimativa da Absolar aponta que, para cada um megawatt (mw) instalado de energia solar, o setor gera de 25 a 30 empregos.Luccas Priotto, sócio-fundador e diretor comercial da Elysia, empresa com sede em Porto Alegre e que atua no setor desde 2016, afirma que a companhia acompanha o crescimento do setor em expansão de atendimento, faturamento e de geração de emprego.
— Nossa empresa começou com dois sócios e mais um engenheiro, três pessoas. Em 2018, já estava em oito pessoas e agora em 2020 a empresa está com 35 funcionários. Para o ano que vem, já estamos com uma previsão de terminar o ano com um número de 50 a 60 funcionários — exemplifica.
Segundo Priotto, a pandemia de coronavírus freou as expectativas de faturamento da empresa entre março e julho, mas que a companhia já vive retomada com bons números desde agosto e mantém boas expectativas para o próximo ano.
O diretor destaca que essa demanda por funcionários também eleva a busca por especialização e a oferta de profissionais capacitados tanto na parte operacional quanto na comercial:
— Abriu espaço, por exemplo, para o engenheiro comercial, que é um profissional técnico, mas que também tem um lado comercial. Esse é um papel que é muito difícil de achar no mercado, mas que cada vez mais vem se especializando.
Foto por: Isadora Neumann – Agência RBS
Geração em alta
Atualmente, o Brasil ultrapassou a marca de 300 mil conexões de geração distribuída solar fotovoltaica, conforme a Absolar. Em potência instalada, o país concentra 3,6 gigawatts.
O Rio Grande do Sul é o segundo Estado brasileiro em potência instalada na área de energia solar, com 446,9 mw (13%), ficando atrás apenas de Minas Gerais, que concentra 671,5 mw, segundo a Absolar, com dados agrupados até o dia 1º de setembro. No RS, 67% das instalações são residenciais. No entanto, na potência instalada, comércio e serviços lideram, com fatia de 40%. Caxias do Sul (16,9 mw), Santa Cruz do Sul (15,4 mw) e Novo Hamburgo (12 mw) ocupam o topo em potência instalada.
Nos nove primeiros meses deste ano, o Estado já ultrapassou o total de geração distribuída em 2019. Até 24 de setembro, o RS registrava 17.340 conexões instaladas no ano, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Nos 12 meses do ano passado, esse montante ficou em 15.028.
Em Taquara, no Vale do Paranhana, uma das unidades da rede de supermercados Rede Muller recebeu os painéis de energia solar nesta semana. O gerente financeiro da empresa, Bruno Mateus Winter, afirma que a opção pelo sistema ocorre em razão da economia financeira e redução de impacto ambiental.
— O varejo alimentar tem um alto consumo de energia, principalmente em função da refrigeração dos alimentos perecíveis. Buscamos sempre nos atualizarmos e inovar com tecnologias atuais — destacou.
A instalação no empreendimento, tocada pela Solled Energia, conta com 516 módulos. Winter destaca que a empresa já estuda a viabilidade de instalar o sistema em mais duas unidades até 2021.
Busca por formação segue o embalo
O crescimento da geração de energia e, consequentemente do setor, também causa impacto na busca por especialização na área. Levantamento da Elektsolar, empresa com sede em Santa Catarina e que atua no mercado de treinamentos no âmbito fotovoltaico, aponta que a procura por cursos na área cresceu cerca de 50% entre janeiro e julho deste ano, se comparado ao mesmo período do ano passado.
O diretor de educação da Elektsolar, Gabriel Guimarães, afirma que esse aumento na procura por formação ocorre tanto nos caso de profissionais que já atuam na área e buscam expandir o conhecimento quanto no caso dos iniciantes. No entendimento de Guimarães, esse crescimento ocorre em razão desse mercado ser incipiente e com projeção de continuar em expansão.
— As pessoas têm tido essa clareza, que realmente é algo que está crescendo, só vai crescer mais. É irreversível, é tendência e preciso me capacitar — destaca. Acompanhando o crescimento do setor, o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) no Rio Grande do Sul também oferece capacitações na área. Professor da unidade do Senai em Gravataí e mestre em energia renovável, Alexandre Graosque afirma que a procura por cursos no âmbito de sistemas fotovoltaicos apresentou crescimento nos últimos três anos e que esse movimento se mantém em 2020.
— Teve um crescimento bem grande na procura em função também de os profissionais da área de eletroeletrônica visualizarem nesse negócio uma perspectiva de crescimento tanto profissional quanto de negócio — explica Graosque.
Segundo Graosque, essa busca por formação ocorre na cadeia como um todo, atingindo as áreas de instalação, de projetos e de negociação, mas que a maior parcela ainda é registrada na parte da instalação. O professor destaca a importância da busca por especialização e qualificação caminhar junto do crescimento do setor.
Fonte: ANDERSON AIRES – Gaucha ZH, 24.09.2020
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